quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

Requiem pelo ISCSP, bastião da escolástica nacional

Requiem pelo ISCSP


Estou no ISCSP (Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas) desde 2004, num mês de Setembro de Sol, além das praxes em que não me dei ao trabalho de passar no corredor da morte de ovos e "ketchup" na cabeça em que os do segundo ano se libertam do seu ressabiamento. Depois, enquanto ainda decorriam os "rallies" do "whiskey" começa a pior parte. A insondável pobreza de espírito da maioria dos professores do Iscsp.

A referência que tinha do ISCSP era a da simpática figura do decano Adriano Moreira mas este antigo presidente do ISCSP havia saído há muito pela imposição do júbilo à idade máxima de 72 anos, hoje Adriano tem 85 anos e está assim (para nossa grande infelicidade) limitado às privadas e aos júris dos doutoramentos. Quanto aos actuais professores do ISCSP, os primeiros dias foram esclarecedores.

Na primeiríssima aula fomos brindados com a performance de um professor-adamastor que passou a aula a "disciplinar" e desencorajar os alunos qual era o sacrifício de tão elevada figura da "intelligentsia" nacional, ((basta percorrer a sua extensa lista de publicações (ou não)) em vir ensinar os burros cujo principal defeito era terem tido o desplante de se inscreverem no curso do ISCSP de Relações Internacionais. Tanto que lá gostava de voltar, àquele solarengo dia, para acrescentar algumas larachas ao que logo disse, indignado pela insolência do funcionário público que ousa diminuir os utentes a crianças, impunemente. Tem feito escola por lá o desrespeito pelos alunos..

Para a posteridade guardo a afirmação de tão elevado internacionalista de que "Alcácer-Quibir foi uma vitória para Portugal no plano das Relações Internacionais".. logo refutei tal afirmação acéfala com o argumento de que, mesmo do ponto de vista das relações internacionais, a sobrevivência dos actores é o primeiro e fundamental objectivo dos mesmos. Aí o meu interlocutor dignou se a sustentar que Borges Macedo, fonte histórica de sua estima, é que havia descoberto que a acção militar do nosso d.Sebastião tinha sido (rasgem os outros livros de história todos) uma prevenção de uma invasão Turca ao solo Ibérico e permitido a sobrevivência dos reinos que nele co-habitavam (tanto que as derrotas esmagadoras previnem se nós darmos conta!). Permitam me então considerar uma vitória de secretaria espanhola nessa realidade longe de estar comprovada.

De queixo subido o senhor Direito, outro pedagogo de 5ª categoria que adorava dissertar sobre Sá Carneiro às paredes e tecto das nossas salas dispostas de forma a que professores e alunos consigam estabelecer entre sí o melhor contacto visual possível. Será que chegou a sa miopia a notar o quase desaparecimento dos alunos nas aulas? Eu não estive lá para saber..

Ciências Sociais deixou um sentimento misto. Professoras dedicadas mas um programa, agora atirado às cobras, que, se muito bem nos fez em nos ensinar sobre Max Weber, Pareto e outros que tais, sofria das certezas etnográficas que tão longe de estarem comprovadas estão e, em suma, introduzia-nos às correntes das ciências sociais da mesma forma bafienta, desconfio, desde antes do 25 de Abril.

Primeiros dias de aulas no ISCSP que na altura não interiorizei como particularmente maus ou desencorajantes. A falta de termo de comparação suavizou a digestão da refeição podre.

Contudo o termo de comparação veio com o erasmus. Curto e em direcção ao alvo: os professores da universidade de nottingham dependem da avaliação dos alunos e da vontade de serem melhores especialistas traduzida em títulos académicos e publicações. Lá, onde os exames não têm nome e os professores sabem o teu nome porque entre cafés de trabalho, papers, sessões de grupo sobre leituras das matérias e mensagens electrónicas trocadas, os alunos sabem o que é uma universidade a sério, com pesquisa e troca de ideias. Não chegam a saber o que é a reprodução acrítica das matérias nos exames como único factor para passar pois sabem que a visão pessoal sobre elas é a forma de demonstrar que se desenvolveu a única coisa que fica para sempre de um curso de ciências socias, como diria, Adriano Moreira, a capacidade de aprender.

Os professores são investimentos que tanto os alunos fazem na sua educação como as faculdades para seu prestígio. Os bons (cujas PESSOAS MAIS IMPORTANTES DA UNIVERSIDADE: OS SEUS ALUNOS, ELEGEM) transitam verticalmente para cargos de maior responsabilidade e remuneração ou horizontalmente ao aceitarem convites para universidades melhores. Os maus não lhes vêm renovados os contratos e dedicam um ano sabático à investigação ou passam a vergonha de não terem alunos suficientes inscritos na sua cadeira.

No ISCSP, se assim fosse muito mudava, lá iam à vida os velhos que não fazem nada além de comparecerem encarecidamente às aulas onde repetem a ladainha que os fez por obra e graça do senhor doutores. Os professores mais novos, apesar dos vicios da sua endogenia, arrisco dizer que fariam melhor figura num ambiente livre de regências pois são seres mais afoitos e que vingaram num regime de selecção mais darwiniana do que os seus chefes da era pré universidade massificada. Ainda assim muito lhes faltaria para terem lugar em Nottingham, onde os concursos para professor tem alcance mundial e onde só tive 40% de professores ingleses. Lá os concursos públicos não são feitos à medida daquela menina jeitosa a que algum catedrático queira fazer um favorzinho..

(da minha experiência) Se és um jovem que quer investir numa educação universitária que te estimulará a continuar na tua área de estudos aproveita a união europeia e vai para Nottingham. Se só precisas de um diploma de licenciado daqueles em que se decorando 2 dias antes da frequência se vai lá então o ISCSP tem o que queres e uma bela vista sobre o Tejo..

-- André Rodrigues Lopes

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